Força de Vontade
Um dia tive um encontro interessante, embora estranho, mas que teria grande influência no futuro da Escola Bushidô...
Quando voltava do cinema, ao subir a Rua Crispim Mira, próximo à escadaria onde morava, notei alguém em frente a um armazém, (que estava fechado naquele horário – 23:50 da noite) que pulava e se agitava como um lutador de boxe...!
Até aí tudo estava tranqüilo, mas quando me aproximei do local, o rapaz veio em minha direção, o que fez com que me preparasse para um combate que parecia iminente.
Vamos fazer um parêntese para explicar quem era o rapaz...!!!
Tratava-se de um rapaz que mudara a pouco para o bairro e, como era forte e praticante de Kung Fu, logo caiu nas graças da rapaziada “lá de baixo”, o que fazia dele uma incógnita para mim, não sabia se seria amigo ou mais um encrenqueiro.
Dito isto, voltemos ao “combate iminente”...
Ao ver que me preparei para lutar, o rapaz tratou de levantar as mãos e gritar:
- Ô cara! Calma que eu só quero conversar contigo!
Continuei em alerta (até por que o rapaz estava cheirando a cerveja), mas ouvi o que ele tinha para falar...
Ele queria saber se podia assistir a uma aula na “academia”, o que respondi afirmativamente e no outro dia, que era uma segunda feira, o rapaz apareceu, mostrou alguns movimentos, olhou o meu treino com Michel e disse que tinha um amigo que gostaria de treinar e que o traria no outro dia...
Resumindo, o rapaz levou e apresentou o amigo e foi embora, enquanto que o amigo ficou para a aula.
Tivemos apenas mais um encontro com este rapaz que depois se mudou e nunca mais ouvimos falar dele...!
Devem estar se perguntando que importância esse cara teve no futuro do Bushidô, não é mesmo???
Bem, ele foi o cara que me apresentou ao amigo que queria treinar lembram?
O rapaz chamava-se Sérgio Eduardo Raulino, tinha cerca de 17 anos e havia treinado em uma outra academia de artes marciais durante cerca de um ano e meio.
Quando pedimos que chutasse o saco de pancadas, Michel e eu ficamos meio em dúvida sobre o futuro do rapaz em artes marciais – ele não conseguia sequer mover o saco de pancadas com seus chutes!
Mas o aceitamos nos treinos e com muita paciência o rapaz foi evoluindo e, seis meses depois os chutes já estavam muito bons.
Embora tivesse muitas dificuldades técnicas, havia uma coisa nele que fez com que melhorasse - força de vontade!
Como não havia dias específicos para treinar, o cara vinha todo dia, incluindo domingos e feriados (isso levando em conta que dependia de ônibus), o que chegava a ser chato, mas era um “chato” no bom sentido! Podia chover canivete que lá estava o Sérgio treinando! Às vezes, num domingo ou feriado, eu, então casado, queria dormir até mais tarde, mas eis que lá pelas oito (08h00min) da manhã batem na porta. Quem seria? O Sérgio para treinar!!!
Treinamos juntos por alguns anos até que o Sérgio parou e foi dedicar-se a estudos e problemas pessoais...
Aqui se abre um período de cinco (5) anos até que nos reencontrássemos...
O reencontro meio por “acaso”, deu-se quando eu já tinha um trabalho de artes marciais chamado “Bushidô – Kung Fu – Defesa Pessoal” e dava aulas na antiga Academia Agile, no bairro Costeira, em Florianópolis.
Ao voltar de um dia de treino na academia, quando desci do ônibus, encontrei Sérgio que esperava o mesmo ônibus para ir para casa (nessa época ele morava no bairro Aeroporto) e falamos muito rapidamente.
Disse onde estava dando aulas e convidei Sérgio!...
Com seus conhecimentos em informática, publicidade e marketing, Sérgio pegou tudo aquilo que eu tinha no papel e transformou em uma apostila, que foi a primeira compilação do que hoje chamamos de “Pergaminhos da Arte - Livro Azul”, onde temos técnicas, exercícios respiratórios detalhados até o sexto nível de estudos e que continuam no “Livro Vermelho” que vai do nível 07 até o 10°. E, posteriormente, desenvolvemos técnicas de armas, simbologia, logomarcas, além de uma identidade própria.
Mais que um amigo, Sérgio tornou-se um ótimo colaborador e foi durante muito tempo um dos Coordenadores da Escola Bushidô de Artes Marciais, da qual é um dos fundadores e foi responsável também pela Associação Cultural de Artes Marciais Bushidô, tendo sido seu primeiro Presidente.
Foi também o responsável por pesquisar, aprender e ensinar as técnicas de manuseio das armas que utilizamos.
Hoje o Sérgio está dedicando-se com mais exclusividade às aulas de informática, área da qual é professor, e não tem participado das nossas atividades, mas com certeza será sempre lembrado com muito carinho por tudo o que fez pela Escola Bushidô.
Mas tudo isso não seria possível sem o ingrediente principal, que fez com que ele chegasse até aqui, FORÇA DE VONTADE, seguida pela sua garra, seu talento e sua vontade de ver o Bushidô crescer cada vez mais...
Todas as vezes que preciso dar aos alunos um exemplo de força de vontade vencendo as dificuldades técnicas e físicas, utilizo o exemplo de Sérgio!
Se você que está lendo estas crônicas tiver dificuldades técnicas e/ou físicas, siga o exemplo do Sérgio – força de vontade é a principal arma para o sucesso!!!
Obrigado amigo Sérgio!!!
Roberto Silva – Fundador da Escola Bushidô
Ano de 2011